Pai completa prova de triatlon levando filho com paralisia cerebral
No
meio de tantos atletas, um homem tem uma missão maior. Seu filho
quer participar, e ele vai atender o desejo do filho. A essa altura,
você deve estar cheio de perguntas, tentando entender e até
acreditar nesta história. Esta é a história de um pai que nunca
desistiu de lutar pela felicidade do filho.
Rick
é o mais velho dos três filhos de Dick Hoyt. Durante o parto, o
cordão umbilical se enrolou no pescoço. Faltou oxigenação no
cérebro, provocando danos irreversíveis. Rick não pode falar ou
controlar os movimentos de seus braços e pernas. Parecia condenado.
“Os
médicos disseram: ‘Livre-se dele. É melhor interná-lo. Ele vai
ser um vegetal o resto da vida’. Nós choramos, mas decidimos
tratá-lo como uma criança normal. Ele é o centro das atenções e
está sempre incluído em tudo”, conta Dick Hoyt.
Rick
sempre teve amor, mas ninguém sabia até que ponto ele conseguia
absorver e entender o que se passava a sua volta. A escola achava que
ele não tinha capacidade de aprender. Os médicos também.
“Mas
aí nós pedimos para os médicos contarem uma piada, e Rick caiu na
gargalhada. Eles, então, disseram que talvez haja algo aí dentro”,
lembra Dick Hoyt.
Cientistas
desenvolveram um sistema de comunicação para Rick. Com o movimento
lateral da cabeça, o único que consegue controlar, ele poderia
escolher letras que passavam pela tela e, assim, lentamente, escrever
palavras.
“Ele
tinha 12 anos, e todo mundo estava apostando quais seriam as
primeiras palavras da vida dele. Seriam ‘Oi, pai!' ou 'Oi, mãe!’?.
Que nada! Ele disse: ‘Go, Bruins’, uma frase de incentivo ao
Boston Bruins, time de hóquei”, conta Dick Hoyt
Rick
participava de tudo. E foi assim que surgiu a idéia de correr.
“Um
colega da escola sofreu acidente e ficou paralítico. Foi organizada
uma corrida para arrecadar dinheiro para o tratamento. E Rick,
através do computador, pediu: ‘Eu tenho que fazer algo por ele.
Tenho que mostrar para ele que a vida continua, mesmo que ele esteja
paralisado. Eu quero participar da corrida’”, lembra Dick Hoyt.
"Eu tinha 40 anos e não era um atleta. Corria três vezes por
semana, uns dois quilômetros, só para tentar manter o peso. Nós
largamos no meio da galera, e todo mundo achou que a gente só ia até
a primeira curva e ia voltar. Mas nós fizemos a prova inteirinha,
chegando quase em último, mas não em último. Ao cruzarmos a linha
de chegada, Rick tinha o maior sorriso que você já viu. E quando
chegamos em casa, ele me disse, através do computador: ‘Pai,
durante a corrida, eu sinto como se minha deficiência
desaparecesse’. Ele se chamou de 'pássaro livre', porque então
estava livre para correr e competir com todo mundo”.
Que
pai não faria todo o esforço para levar tamanha felicidade a um
filho? Dick começou a treinar, e eles resolveram participar de
outras provas. Mas a recepção não foi boa.
“Ninguém
falava com a gente, ninguém nos queria na corrida. Famílias de
outros deficientes me escreviam e estavam com raiva de mim.
Perguntavam: 'O que você está fazendo? Procurando a glória pra
você?'. O que eles não sabiam é que Rick é que me empurrava para
todas as corridas”, conta Dick Hoyt.
E
contra todos, eles foram em frente. Um ano depois, participaram da
primeira maratona. Cinco anos mais tarde, veio a idéia do triatlo.
Mas, para fazer triatlo com seu filho, Dick Hoyt tinha uma série de
problemas para resolver.
Primeiro:
equipamento. Não existia nada parecido no mercado. Todo o material
de competição teve que ser desenvolvido. E a cada competição,
Dick Hoyt tinha que chegar mais cedo para montar tudo.
Mas
Dick Hoyt tinha um problema muito maior a resolver para poder fazer
triatlo com o filho. Uma coisinha básica: ele não sabia nadar.
Mudou-se para uma casa à beira de um lago e foi.
“Nunca
vou esquecer o primeiro dia. Eu me joguei no lago e adivinha:
afundei. Mas todo dia eu chegava do trabalho e tentava ir um
pouquinho mais longe”, conta Dick Hoyt.
Entre
o primeiro dia no lago e o primeiro triatlo, foram apenas nove meses.
A questão da natação estava resolvida, mas Dick Hoyt ainda tinha
mais uma dificuldade pela frente: já fazia um certo tempo que ele
não montava numa bicicleta – desde os 6 anos de idade.
O
ciclismo é a parte mais difícil para os Hoyt. A bicicleta deles é
quase seis vezes mais pesada que a dos outros, sem contar o peso de
Rick. Na subida, isso fica claro.
“Ninguém
me ensinou a nadar, a pedalar ou a correr como um atleta. Nós
simplesmente fizemos. Do nosso jeito”, comenta Dick Hoyt.
Do
jeito deles, pai e filho enfrentaram os mais incríveis desafios. O
mais impressionante: o Iron Man, no Havaí, o mais duro dos triatlos.
São 3,8 mil metros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e uma
maratona inteira no fim: 42,195 quilômetros de corrida em mais de 13
horas de um esforço sobre-humano.
Dick
e Rick venceram a desconfiança. Hoje são queridos onde chegam.
Recebem incentivos dos outros competidores a todo instante e até
agradecimentos.
“Vocês
são incríveis. Obrigada”, diz uma triatleta.
Um
rapaz diz que resolveu fazer triatlo por causa deles: "Hoje foi
minha primeira corrida e eu gostaria de agradecê-los por serem minha
inspiração”.
“É
de emocionar, porque você começa a refletir o que tem feito da sua
vida”, comenta uma mulher.
“É
a parte mais fenomenal do triatlo. É incrível o que esse homem faz
com seu filho”, elogia outra mulher.
“Ele
é um grande homem. Ele tem coração, é um bom homem”, ressalta
um atleta.
Desde
1980, foram seis edições de Iron Man, 66 maratonas e competições
de diversos tipos. Pai e filho completaram 975 provas juntos. Jamais
abandonaram uma sequer e nunca chegaram em último lugar. Eles têm
orgulho de dizer: “Chegamos perto do último, mas nunca em último”.
Sempre com o mesmo final apoteótico: público comovido, braços
abertos e aquele mesmo sorriso enorme na linha de chegada.
Atualmente,
Rick tem 46 anos. Com o movimento da cabeça, escreve no computador
frases que serão faladas por um sintetizador de voz. É um homem
bem-humorado. “As pessoas, às vezes, ficam olhando para mim. Eu
espero que seja porque eu estou muito bonito”, brinca.
Rick
formou-se em educação especial na Universidade de Boston. “Não
dá para descrever a felicidade no dia da formatura. Foi minha maior
realização. Eu mostrei para as pessoas que elas não têm que
sentar e esperar a vida passar”, comenta.
Hoje
ele não mora mais com o pai. Mora sozinho, com a ajuda de pessoas
contratadas para dar assistência. E se você fica dois minutos com
Rick, jamais vai esquecer o seu sorriso.
“Ele
é muito, muito, muito feliz. Provavelmente, mais feliz do que 95% da
população”, afirma o pai, Dick Hoyt, que escreveu um livro e
criou uma fundação para ajudar outras pessoas com paralisia
cerebral. Hoje o superpai tem 68 anos e impressiona pelo vigor que
continua apresentando.
Aos
52, empurrando Rick, conseguiu o incrível tempo de 2h40m na Maratona
de Boston, pouco mais de meia hora acima do recorde mundial. Marca
excelente para um amador, sensacional para uma pessoa dessa idade e
inacreditável para quem corre empurrando uma cadeira de rodas.
“Já
me disseram para competir sozinho, mas eu não faço nada sozinho.
Nós começamos como um time e é assim que vai ser. O que importa
para mim é estar aqui e competindo ao lado do Rick”, afirma Dick
Hoyt.
Por
isso, eles se chamam “Team Hoyt” – o time Hoyt, a equipe Hoyt.
Pai e filho, inseparáveis. Richard Eugene Hoyt e Richard Eugene Hoyt
Junior: uma mensagem viva para o mundo.
“Nossa
mensagem é: 'Sim, você pode'. Não há, no nosso vocabulário, a
palavra ‘impossível’. Esse é o nosso lema. E nós continuaremos
com ele até o fim”, garante Dick Hoyt.
Fonte: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0%2C%2CMUL699526-15605%2C00.htm
Comentários
Postar um comentário
Deixe o seu comentário