CINEMA E A AUDIODESCRIÇÃO

Muito bom esse artigo.
Aproveito a oportunidade para fazer uma crítica: Como pode uma transmissão de uma Paraolimpíada sem a Audiodescrição e o uso da LIBRAS? Nenhum canal no Brasil usou desses recursos para que, de fato, TODOS participassem desse grande evento. Será assim em 2016?
Abraços,
Lucimar Paula

Ao longo de toda a trajetória do cinema, filmes inesquecíveis deixaram sua marca na vida de cada um de nós. Nos permitiram sonhar e aprender com mundos diferentes, com grandes histórias que podem ou não fazer parte do nosso cotidiano. As lições que aprendemos com a magia da sétima arte abrem nosso pensamento e nos levam a enxergar o mundo de uma outra forma, facilitando nossa compreensão acerca de nossas próprias vivências. Essas lições podem estar em uma simples fala ou gesto de um personagem, e é naquele momento que a compreensão da mensagem transmitida pelo autor se torna essencial.
Vamos relembrar algumas cenas de filmes que marcaram a história do cinema. Ainda que fora de contexto, esses exemplos podem ajudar a esclarecer o que estamos afirmando aqui.
No filme Diário de Um Adolescente (1995), Reggie (Ernie Hudson) coloca Jim Carroll (Leonardo DiCaprio) em uma sala isolada para mantê-lo afastado das drogas. Para garantir a segurança de Jim e impedir sua fuga, Reggie dorme sentado em uma cadeira junto à porta da sala. Durante a madrugada, Jim acorda diversas vezes, implorando a Reggie para deixá-lo sair. Reggie, já com expressão cansada, permanece irredutível. Em A Vida é Bela (1997), que se passa em meio à Segunda Guerra, Guido (Roberto Benigni) esconde o filho e vai à procura da esposa. É rendido por um soldado e, ao passar pelo esconderijo onde havia deixado seu filho, marcha fingindo brincar, para que o menino não se assuste com a situação.
Em ambos os casos os diálogos são inexistentes. A compreensão dos acontecimentos fica a cargo da imagem, dos ruídos e dos ambientes em que se encontram os personagens. Agora imaginemos essas cenas sem as imagens: o que conseguiríamos depreender delas? Com certeza nossa imaginação iria em busca de algo que fizesse sentido, mas dificilmente chegaríamos perto do que pretende o diretor. A audiodescrição se encarrega de transformar essas imagens em palavras, sem emitir qualquer opinião ou explicação das cenas. Descreve apenas as ações dos personagens, os ambientes, as expressões. Assim, pessoas com deficiência visual também podem compreender e compartilhar desses ensinamentos, criar suas próprias opiniões sobre os assuntos propostos e, principalmente, desfrutar plenamente dessa magia cinematográfica.
Como amantes incondicionais da sétima arte, sentimos que nosso direito de aprender e desfrutar dela foi roubado quando assistimos cenas como essas. Ainda assim, sabemos que na maioria das vezes essas cenas são de extrema importância para contar a história, são elas que enriquecem a obra. Portanto, já que a beleza da obra está nesses detalhes, para que uma pessoa cega também possa se encantar e se emocionar, compreendendo o contexto da história, é indispensável o uso da audiodescrição.
Não estamos pedindo o Oscar da audiodescrição (ainda não), mas sim a audiodescrição do Oscar, por exemplo. Uma festa recheada de glamour, onde figurinos, expressões dos participantes e cenários são, na maioria das vezes, ainda mais importantes que a própria estatueta. Por essa razão, a grande festa do cinema mundial deveria ser transmitida com audiodescrição, o que aumentaria ainda mais o nosso fascínio com o evento.
Acreditamos que seja perfeitamente possível que todo filme seja lançado com este recurso, desde que seja encarado como parte da produção e do orçamento da obra. As grandes produtoras e os grandes diretores precisam entender que existe outro público apaixonado pela sua arte, buscando consumir e desfrutar do melhor que o cinema pode oferecer. Um público que vem se tornando cada vez mais crítico quanto à qualidade dos filmes, à interpretação dos atores e ao conteúdo abordado nas mais emocionantes histórias. E isso só se torna possível porque alguns poucos abriram os olhos para esse novo mercado, acreditando na capacidade cultural e intelectual desse novo público. Todos nós estamos ganhando muito com isso.
por Jefferson Campos Beck
Fonte: Mil Palavras


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