‘Autism In Love': filme mostra como um simples romance pode ser tão complexo

Um jovem chamado Lenny está deitado na cama jogando videogame. Não tem se sentido feliz ultimamente, por isso sua mãe sobe as escadas para saber como ele está. O motivo de sua tristeza é que ele quer ter uma namorada, e não tem. Está pensando em criar um perfil para paquera na Internet. Nesse perfil, ele listaria seus interesses: carros e esportes — basquete, principalmente.
“Você colocaria aquelas coisas do Comic-Con [evento de entretenimento, histórias em quadrinhos, cultura pop] lá?”, sua mãe pergunta.
“Não”, afirma. “Não colocaria.” Segundo a mãe de Lenny, ele se esforça para se encaixar — parecer “normal” — e ao fazer isso “vai longe demais”.
“Ele só precisa ser ele mesmo”, desabafa.

Lenny, assim como 1% da população mundial, sofre de transtorno do espectro autista.Como outros com sua condição, é difícil para ele processar e responder aos códigos da sociedade, mas Lenny tem uma conexão muito forte com a família e entes queridos.
Embora a percepção comumente discutida sobre o autismo é que ele inibe as demonstrações verbais de carinho, o cineasta Matt Fuller tenta mostrar que o transtorno não está em conflito com o ato de amar — um sentimento caracterizado pela empatia e entendimento. Seu primeiro longa-metragem, “Autism in Love (Autismo Apaixonado, em tradução livre)”, estreou em abril no Festival de Cinema de Tribeca, na cidade de Nova York.
Fuller conversou com o The Huffington Post sobre suas ambições na produção do documentário. “Estou sempre à procura de oportunidades para contar histórias sobre personagens que querem algo que parece que não podem ter”, disse.
“Não conheço a ciência. Não conheço a origem do transtorno. Não conheço os desafios que muitos adultos com autismo enfrentam. Sei que eles querem amar e ser amados. E sei que são capazes de ter relacionamentos românticos significativos.”
Paul Wang, chefe de pesquisa médica da ONG Autism Speaks, apoia a mensagem de Fuller. “Embora pensemos sobre o autismo, e sobre as pessoas com autismo, em termos de deficiência social, o déficit não está no desejo”, diz. “O déficit está nas habilidades necessárias para compreender o comportamento comunicativo e social de outras pessoas, e em se expressar por meio da linguagem e comportamentos sociais.”
Outro casal no filme de Fuller -- Lindsey e Dave – enfrenta esses desafios diariamente e tem conseguido manter um relacionamento de oito anos. Em uma cena que parece representar as conversas que fazem parte do cotidiano doméstico do casal, Lindsey explica para seu namorado que ela usa colares para desviar a atenção de suas partes mais vulneráveis. Dave se surpreende: “Não sabia disso”. Então, ele abruptamente muda a conversa para seus interesses: “O programa do tempo está passando”. Ela fica tensa por um momento — será que ele estava mesmo escutando? --, mas segue com seu dia, em grande parte achando engraçada a fixação dele em assistir o The Weather Channel.
“As pessoas com autismo tendem a ser muito diretas em sua comunicação. Mais do que outras pessoas, eles podem dizer o que vêm à mente, e dizê-lo da maneira mais direta e brusca possível”, diz Wang, acrescentando que problemas na conversação não são exclusivos daqueles que sofrem o transtorno. “Namoro e romance exigem todos tipos de habilidades sociais e sutis complexas. Pergunte a qualquer pessoa que tenha sido rejeitada ao tentar sair com alguém, ou que parece não conseguir manter um relacionamento a longo prazo.”
Para navegar por essas travessias sociais, Lindsey e Dave comparam o relacionamento deles com um fenômeno mais concreto. Essa abordagem atrai especialmente Dave, que é cientista. Ele associa sua afeição por Lindsey ao espectro eletromagnético: visivelmente intensa no início, e mais sutil, mas forte, com o passar do tempo. Ele usa uma fórmula que inclui aparência, personalidade e gentileza para determinar uma conexão amorosa ideal. No vídeo abaixo, ele explica como dá sentido ao amor ao pensar nele como uma força: não tangível, mas que pode ser fortemente sentida.
“No geral, as pessoas com autismo costumam usar a linguagem de maneira mais concreta do que outros”, observa Wang. “As pessoas que estão procurando e as que mantêm um relacionamento romântico trocam sinais não verbais o tempo todo; escolhem sua linguagem com muito cuidado, têm que entender o que a outra pessoa está procurando e tentando transmitir. Para muitas pessoas com autismo, todas essas tarefas são obstáculos.”
Mas, como o comovente filme de Fuller demonstra, para os que sofrem o transtorno, há muita esperança de construir um relacionamento amoroso estável. Como explica Wang, a mensagem mais importante é que as pessoas com autismo amam e querem ser amadas”.
Perto do final do filme, Lenny se animou. Durante uma pausa rápida de um novo emprego que ele gosta, deixa que o câmera e o espectador saibam que está pronto para entrar e voltar a trabalhar. Essas novas responsabilidades lhe proporcionaram a confiança para se sentir confortável na própria pele — um passo promissor em direção à realização interpessoal.
http://www.brasilpost.com.br/2015/05/07/autismo-amor_n_7235822.html


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